Não se nasce Leão, torna-se Leão
Junto com os leoninos que fizeram parte da pesquisa do Peoplestrology, compartilho que quando fala-se sobre o signo de Leão, geralmente o que vem é: força, brilho, determinação, autoconfiança, alegria e por aí vai. Só palavrão de impacto. Não tem nada pouca coisa não.
É um saldão de adjetivos maravilhosos para o seu currículo vitae.
Parece que o fato de nascer com o Sol em Leão, é por si só um privilégio. Minha mãe, por exemplo, é uma alopata bastante cética que não entende nada de signos e astrologia, e tem muito orgulho de ser do signo de Leão.
Leoninos não nascem, leoninos estreiam?
Leoninos só nascem, e logo depois são acoplados à metáfora (pouquinho megalomaníaca) de Rei da Selva. Cortou o cordão umbilical: é melhor que você seja essa pessoa líder, forte, determinada e confiante.
Por esse motivo na maioria das vezes sou recebida com um tom de surpresa quando digo que sou de Leão. E de repente, por não agir “como uma pessoa de signo de Leão” as pessoas referem-se a mim como uma cópia mal feita do “ser leonino”. E, assim como eu, imagino que existam outros tantos leoninos que não se enxergam nesse lugar unânime (e também bastante caricato).
Por muito tempo eu sentia que precisava perseguir essas características tão nobres do meu próprio signo, já que eu me sentia longe de performar alguns comportamentos “naturalmente leoninos”. Uma vez, fazendo o meu mapa astral, o astrólogo me falou que eu estava aprendendo a ser leonina. E então eu desejei aprender a ser mais leonina. Queria ter a auto-confiança, poder e, óbvio, mandar na selva.
Mas enquanto eu estava aprendendo a me tornar mais leonina e também mulher (obrigado, Simone Beauvoir), profissional e ser humano, cai naqueles buracos da vida. E já bem atrasada em ser leonina, recuperei o fôlego ali, escavando os vestígios do amor próprio. Tava longe do espelho, do reinado, das atenções. Onde eu estava era escuro, labiríntico, pedroso e não cabia nenhuma boa companhia.
Persistente, como faísca filha de fogo primitivo, alcancei a lealdade do amor próprio. Ela não tinha juba, mas me agigantou. Também não fiquei maior que outrem, apenas fui me ocupando dos espaços “de mim”. Flama de ser.
Seria esse então o tão esperado brilho de Leão? Acho que não. Desconfio que ele é apenas o signo que tem a função de lembrar a todos da selva zodíaca, que o amor-próprio vem antes. E que qualquer outra coisa vem depois. Vaidade ou condição de sobrevivência?
* Luiza Futuro
Leonina, pesquisadora e escritora. Mensalmente escreve a News From Futuro, uma newsletter sobre novos comportamentos e tensões que impactam as relações sociais.