Peoplestrology é um projeto de pesquisa e conteúdo que coloca a perspectiva das pessoas em primeiro plano. Além de resultados imediatos do pulso coletivo, a plataforma oferece publicações e análises que investigam a relação da Astrologia com temas da atualidade, em busca de tendências sociais e comportamentais.
O time por trás da ideia é formado por pesquisadores, psicanalistas e profissionais criativos: André Alves e Lucas Liedke, fundadores da float, pesquisadores de tendências com experiência em análise cultural e mercadológica; e Gabriela Namie e Jun Ioneda, designers e empreendedores, fundadores do Estúdio Barca, escritório de design gráfico. Jornalistas, psicólogos e astrólogos participam do projeto para discutir o futuro da Astrologia em uma ótica coletiva, aberta e em contínua transformação.
Em tempos de incerteza, é comum buscar respostas para além da razão, e o oculto parece que se torna cada vez menos oculto.
A suposta Era do Vazio é uma busca generalizada (e às vezes desesperada) por sentido nas coisas. A informação viaja rápido. Parece que sabemos de tudo, mas ainda assim não entendemos nada.
Peoplestrology se propõe a investigar o que há de mais humano e real em uma das culturas místicas mais populares do mundo (e da sua timeline): Astrologia – que cultura é essa e por que não é mensurada?
O que a Astrologia pode revelar sobre valores da atualidade – a forma como enxergamos o mundo, os outros e nós mesmos?
É hora de pesquisar os indivíduos por trás dos arquétipos astrológicos. Não vamos falar com planetas ou estrelas. Vamos falar com pessoas.
IINo começo haviam os astros.
Com uma História tão complexa, de povos que desapareceram há tanto tempo, não há perspectivas da Astrologia algum dia ser extinta do planeta.
E se a sua origem for tão profunda que este mito simplesmente se transformou em fato ou pelo menos em conhecimento popular?
Os críticos, chatos e céticos vão alegar que Astrologia é:
Uma grande bobagem;
Um mundo de ilusões para pessoas absolutamente desprovidas de real conhecimento;
Uma invenção da cultura de massa para nos distrair dos fatos realmente relevantes com os quais deveríamos nos ocupar;
Todas as alternativas anteriores.
Mas se a Astrologia é mesmo um grande hoax, estamos falando de uma pegadinha que sobreviveu 2.500 anos.
Senta que lá vem história
Foi no vale dos rios Eufrates e Tigris, no atual Iraque, que mesopotâneos e babilônios notaram a existência de um relógio cósmico – os caminhos que o Sol, a Lua e os planetas traçam no céu. No começo, esses movimentos eram observados para relacionar as posições dos astros com atividades como caça, pesca e agricultura. Eis que então surge o mais antigo mapa astral do qual se tem notícia: a posição dos astros quando uma criança veio ao mundo na atual Bagdá, em 29 de Abril do ano 410 a.C.
A tendência da interpretação astrológica se difundiu. Platão, César, Nostradamus – só para nomear alguns. A Astrologia viajou o mundo com grande notoriedade, até que um sujeito chamado Copérnico tirou a humanidade à força da posição de centro do Universo.
Passamos a compreender que as estrelas que formam Libra ou Aquário ocupam posições que sequer possuem uma relação espacial. O ser humano estava projetando imagens que não existiam, e até hoje, fora as influências mais evidentes do Sol e da Lua, nunca se comprovou qualquer real influência dos planetas no dia-a-dia da Terra.
Ironicamente, a Astrologia foi a responsável por fazer o conhecimento científico avançar através do surgimento de uma nova disciplina: a astronomia.
As duas se separaram radicalmente no período do Renascimento, hoje sem qualquer chance de reconciliação.
Mas o potencial da Astrologia não morreria ali. Pelo contrário. No início do século XX, o britânico Alan Leo, estudioso da Astrologia védica, seria um dos grandes responsáveis por traduzir essa cultura para as massas e popularizar a noção de que a posição do Sol era a principal influência sobre o caráter e a personalidade individual.
A partir daí, a oferta encontrou a demanda. Milhões de pessoas foram movidas pela curiosidade, nem que fosse pelo inofensivo hábito de passar os olhos no seu horóscopo. Líderes mundiais como Rainha Elizabeth e Ronald Reagan ficariam famosos por fazer uso da astrologia para tomar decisões que impactaram milhões de pessoas. Peraí, tá certo isso?
IIICientífico? Claro que não.
A Astrologia não é científica simplesmente porque é mais antiga que a ciência. Mas é preciso algo ser científico para ter função? Sabemos que não.
"A dádiva que a Astrologia oferece à humanidade é a sua aptidão para solucionar e tentar explicar aquilo que a ciência não pode e não tenta explicar." Alexander Ruperti – Astrólogo
Ainda assim, pesquisas como a da nsf, mostram que quase 50% das pessoas considera a Astrologia uma ciência, e esse é o índice mais alto dos últimos 30 anos. Pelo fetiche da respeitabilidade científica, a Astrologia moderna se prendeu à lógica da assertividade e da causa e efeito, traindo inclusive a sua antiga herança voltada ao autoconhecimento.
O sociólogo Michel Maffesoli defende que "a Astrologia não é uma ciência, e sim um fato social."
Apesar de se basear em conhecimentos astrofísicos e matemáticos, pode ser melhor entendida como um jogo de linguagem e possivelmente como a teoria da personalidade mais universal já concebida pelo ser humano.
Mas e o que a Ciência tem a dizer? Isso importa? Importa.
Desde o período Renascentista, operamos com uma cabeça predominantemente científica, e esse é o grande pretexto para se colocar a Astrologia embaixo do pano e desperdiçar o potencial da discussão.
Inúmeros cientistas passaram décadas tentando desqualificar a Astrologia.
Funcionou? Sim e não.
Vamos aos fatos!
Selecionamos algumas abordagens que vão dar uma sacudida nas suas crenças.
Singularidade: cada um é cada um.
Um dos mais famosos e polêmicos estudos, publicado pela revista Nature nos anos 80, foi conduzido pelo físico Shawn Carlson na Califórnia. Na pesquisa, 28 astrólogos tentaram equiparar 100 mapas natais com um gigantesco teste de personalidade respondido pelos donos dos mapas. O resultado? Decepcionante.
Muitos anos depois, Peter Hartmann, Martin Reuter e Helmut Nyborg publicaram um estudo com cerca de 15 mil ‘gêmeos astrológicos’ – pessoas que nasceram no mesmo dia, hora e local. A equipe de psicólogos examinou a relação entre mapas natais e características pessoais, mas não encontrou qualquer relação de traços de personalidade entre mapas que seriam tecnicamente iguais.
Quem combina com quem?
O psicólogo Bernard Silverman estudou cerca de 3.000 casamentos e 500 divórcios, comparando-os com as previsões de compatibilidade astrológica. Não encontrou qualquer correlação. Pessoas "incompatíveis" segundo a Astrologia, casam-se e divorciam-se com a mesma frequência que as "compatíveis".
O site de relacionamentos Ok Cupid liberou os resultados de matching entre casais dos diferentes signos. Os cruzamentos mostram que dá tudo na mesma. Os signos solares não fazem qualquer diferença no sucesso ou fracasso dos casais.
Nasceu pra ser médico, artista ou político?
O físico John McGervey estudou biografias e datas de nascimento de 6.000 políticos e 17.000 cientistas e não encontrou qualquer correlação entre o mapa astrológico e suas profissões.
O holandês Rob Nannninga resolveu dar uma chance aos astrólogos de desenvolverem um teste de profissões com base nos mapas. O resultado foi desastroso e os próprios astrólogos discordaram radicalmente entre si nas interpretações.
Futurologia Fail.
Nos anos 80, os astrônomos Roger Culver e Philip Ianna, famosos pelo livro "Astrology: True or False", registraram as previsões publicadas por astrólogos famosos durante 5 anos. Das mais de 3.000 previsões específicas, envolvendo políticos e celebridades, somente 10% aparentemente se concretizaram.
É tudo genérico.
Inúmeros testes já foram realizados pedindo às pessoas que tentassem reconhecer seu mapa astral a partir de diferentes opções disponíveis. O resultado geralmente é o mesmo que seria obtido em um sorteio.
Geoffrey Dean, pesquisador australiano, inverteu leituras astrológicas, substituindo as frases originais por outras que diziam exatamente o oposto. Os participantes concordaram com as definições, originais e falsas, com a mesma frequência.
O jornalista inglês especializado em análise de dados David McCandless realizou uma análise com 22 mil horóscopos diários, e concluiu que todos os horóscopos dizem, basicamente, a mesma coisa para todo mundo.
A conclusão parece ser que essas falácias de validação pessoal acontecem a partir de afirmações que são genéricas demais (que parecem específicas, mas não são) e com as quais qualquer um pode se identificar. Afinal, procuramos o que já sabemos que está lá.
O debate do 13o signo.
Se tudo isso não é suficiente, podemos também argumentar que a Astrologia envelheceu porque o universo se transformou. Astrônomos argumentam que teoricamente teríamos atualmente um 13º signo entre Escorpião e Sagitário, e que todas as datas que marcam a passagem de cada signo não seriam mais as mesmas.
O estudo de evolução das constelações ao longo dos anos é uma polêmica que nunca morreu, mas que também efetivamente nunca mudou nada.
Alguém aí do novo signo Serpentário? Queremos ouvir você.
Em resumo, fazer ciência não é o mesmo que lutar contra o misticismo.
Depois de perceberem que tantas tentativas não fariam a Astrologia desaparecer do mapa, essas pesquisas perderam a notoriedade, e os cientistas voltaram a tratar daquilo que sabem fazer melhor: ciência.
Ainda assim, alguns astrólogos contemporâneos tentam relacionar a Astrologia com os conhecimentos mais recentes da física quântica, como se ainda fosse realmente necessário o aval da ciência. Aguardamos ansiosamente.
No fim, não importa quanta segurança a ciência objetiva pode entregar ou quanto orgulho pode prover ao intelecto, precisamos de algo que estimule a alma humana.
"A mais bela e profunda emoção que podemos experimentar é a sensação de mistério. Ela é a força de toda a ciência." Albert Einstein
IVOnde a Astrologia acerta?
"A Astrologia representa a soma de todo o conhecimento psicológico da antiguidade." C. G. Jung
Todos queremos ser especiais - e somos.
Há algo lisonjeiro na ideia de que nossa personalidade individual reflete alguma ordem cósmica. É a promessa narcísica de que nosso nascimento foi um evento único e particular no universo, e certamente o foi.
É natural querermos conquistar uma individualidade exclusiva, ao mesmo tempo que buscamos também um senso de pertencimento com determinados grupos ou padrões comportamentais. A Astrologia autoriza essa grande viagem.
Por que ler o horóscopo mesmo quando não se acredita?
Porque é algo diferente que se busca. De outra ordem. Não é bem o que o horóscopo diz, mas o que ele pode evocar (ou não) em cada um de nós.
É a forma como a informação vibra ou deixa de vibrar. O residual, o after-taste, o entretenimento e a possibilidade poética. Um gatilho para reflexão, e na pior das hipóteses, um bom assunto para conversa de elevador.
As estrelas inclinam mas não obrigam.
O cosmos não vai nos condicionar, mas podemos usá-lo ao nosso favor. Acreditar só quando nos convém até pode parecer hipocrisia, mas tudo bem.
A nova Astrologia humanística propõe uma previsibilidade que não contradiz com a liberdade individual. É a capacidade de fazer escolhas diante de um conjunto de circunstâncias. Afinal, fazer uma escolha melhor informado, ou pelo menos, mais inspirado – é sempre melhor do que fazer uma escolha sem reflexão alguma.
Como explica o psicólogo Harvey Irwin, os grandes seguidores de Astrologia são tão inteligentes, críticos e ajustados quanto o resto da população. Sua principal diferença está no potencial criativo.
Se a Astrologia pode não servir precisamente para definir uma personalidade ou para prever o futuro, pode ao menos, quem sabe, nos ajudar a construí-los.
VCinco recados finais.
Afinal, é real ou não?
Nossa proposta ética é manter-se acima dessa questão, pois 1) realidade é um conceito cada vez mais relativo e 2) apostamos na ambivalência dos sentimentos conflitantes.
Acreditando ou não em Astrologia, algo existe no consciente e inconsciente coletivo, e o resultado vem com essa pesquisa.
Afinal, se você abomina a Astrologia com todas suas forças, é possível que esteja perdendo ou negando alguma coisa; e se você é fanático a ponto de perder noção do perigo, é provável que esteja apenas enganando a si mesmo e responsabilizando as estrelas pela sua própria vida.
Ninguém entente de Astrologia e todo mundo entende de Astrologia.
A voz de Susan Miller é mais qualificada que a opinião pública? Sim e não.
O conhecimento técnico e teórico é sempre privilegiado, mas em um assunto como esse não podemos perder a perspectiva pessoal, prática e intuitiva.
Afinal, nesse oceano de interpretacões e subjetividades, existe um conhecimento oficial da Astrologia?
Você não é o seu Signo.
A Astrologia defende arduamente a complexidade do mapa astrológico – a posição e configuração de todos os planetas no mapa natal – para um possível retrato total de personalidade.
Ok, você não é o seu signo solar. Mas afinal o que gostamos e não gostamos do nosso signo? E o que isso diz de nós mesmos?
Cada um dos 12 arquétipos representa um universo que é exclusivamente particular, e a nossa intenção é qualificar e quantificar esse conteúdo simbólico.
Jogo de luz e sombra.
Uma simples lista de qualidades e defeitos?
Melhor pensar em eixos – graduais de luz e sombra, com características que podem ser bem aproveitadas ou usadas contra nós mesmos. Se tudo é uma questão de ponto de vista e interpretação, o que é bom para alguém pode não ser para outro. O que é ideal agora, pode não ser daqui a pouco.
Basta lembrar que as sutilezas entre uma pessoa sincera e uma pessoa grosseira, ou entre um sujeito autoconfiante e outro arrogante, são motivos para discussões intermináveis.
Suspenda o preconceito.
Se você veio confirmar o que já sabia, esse não é o seu lugar.
A Astrologia como preceito para intolerância e discriminação é o ápice da ignorância. "Não namoro pessoas de tal signo". WTF? É hora de assumirmos uma postura mais madura sobre esse assunto.
É claro que memes e piadas são bem-vindos, obrigado. Afinal, já tá na hora de voltarmos a rir de nós mesmos.
Ok, chega de teoria. Agora queremos saber o que você pensa.