Sinastria amorosa e a promessa do match celestial
“Ela é de terra e eu sou de ar, fomos feitos um para o outro.” / “Ele é de água e eu de fogo, jamais daria certo mesmo.” A Astrologia cai como uma luva para justificar o amor da sua vida ou para explicar porque acabou. Mas será que isso é tudo que os astros tem a oferecer para as nossas relações?
A Sinastria é o ramo da Astrologia que estuda o grau de “compatibilidade” das relações (afetivas, profissionais e familiares) através da comparação de mapas astrais. Ou seja, é a promessa de que o crush estava escrito nas estrelas. Ou que você devia ter ouvido sua amiga louca dos signos.
O número de buscas sobre Sinastria amorosa cresceu mais de 25% nos EUA e no Brasil nos últimos 5 anos, de acordo com o Google Trends. Os céticos de plantão dirão que tudo isso não passa de um grande delírio, mas a origem desta disciplina tem mais credibilidade do que você imagina. Dizem que Carl Jung conduziu um estudo de compatibilidade entre casais e seus respectivos mapas astrológicos, estudo esse que deu origem à teoria da Sincronicidade, um dos conceitos mais misteriosos da história da Psicanálise e da Psicologia.
Milhares de sites e apps (aka Tinder dos Signos) prometem o teste ideal para qualquer amor: “veja se o seu signo combina com o dele”. Ao longo do tempo, parece que Sinastria e Sincronia inclusive se tornaram sinônimos. Em tese, todo mundo é maduro e usa as combinações astrológicas como um ponto de referência e aprendizados. Na prática, as pessoas buscam a promessa de uma alma gêmea ou o caminho mais rápido para evitar uma cilada.
O problema é que esse ponto de vista acaba usando a Sinastria como a receita para a combinação perfeita, o que quase sempre gera um Godzilla de expectativas — vocês dois tinham a sinastria perfeita e foi o pior relacionamento da sua vida.
Mas calma, a culpa não é (só do) Personare. Essa ótica é “apenas” mais um sintoma de uma Cultura que possui uma relação totalmente idealizada com o amor.
Você busca infindavelmente o/a parceiro(a) ideal, aquele que te entenderá por completo, o príncipe ou a princesa que se apaixonará inclusive pelos seus defeitos. Acorda, querida.
O amor pode ser muito mais livre quando as diferenças e conflitos são entendidos no lugar de serem temidos. Em Why You Will Marry the Wrong Person?, também conhecido como o artigo mais lido do New York Times em 2016, o filósofo e escritor Alain de Bottom propõe uma visão menos idealizada do amor:
“The person who is best suited to us is not the person who shares our every taste (he or she doesn’t exist), but the person who can negotiate differences in taste intelligently — the person who is good at disagreement. Rather than some notional idea of perfect complementarity, it is the capacity to tolerate differences with generosity that is the true marker of the “not overly wrong” person. Compatibility is an achievement of love; it must not be its precondition.”
Relacionamentos interpessoais são um dos maiores desafios da humanidade. É muito ingênuo acreditar que a Sinastria vai resolver essa questão. Mas ela pode facilitar, desde que seja uma possibilidade de conhecer melhor o outro ao invés de ser a desculpa celestial para julgar ou desistir.
Afinal, a Astrologia é um grande exercício de empatia e não uma desculpa para o determinismo. Ela pode inclusive ser uma forma de se colocar no lugar do outro e entender sua natureza, de tentar imaginar como é “ser de gêmeos” no lugar de fugir dos geminianos como diabo foge da cruz. É um papo bem haribô, mas no final das contas, você pode trocar um amor ideal—ou astral— por um amor possível.
* André Alves
Co—fundador do Peoplestrology e da float. Escritor e pesquisador de tendências que vive entre SP e NYC, além de apaixonado por filmes, Astrologia e chás.