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Virgem: olhe novamente

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Eu não gostava de ser virginiana até ontem. Antes de começar a me interessar mais por astrologia, dividia o zodíaco em três seções: signos legais, signos não-necessariamente-legais-mas-interessantes e signos chatos. E Virgem sem dúvida pertencia à última categoria. Nas palavras que os próprios virginianos usaram para definir seu signo na pesquisa do Peoplestrology, somos perfeccionistas, críticos, metódicos, organizados (oi?). Realistas. Desconfiados. Meio céticos, meio cínicos. Pense num sujeito chato.

Eu aceitava ser desse signo como se aceita um carma ou um golpe, alternando e mixando estados de amargura, revolta e resignação. Mais tarde, descobri que meu ascendente também é em Virgem. Drama. Daí comecei a perceber uma coisa curiosa: detestava ser de Virgem, mas gostava muito de todos os virginianos que conhecia. Péra. Como assim? E então, como boa virginiana, fui estudar pra parar de pensar merda. 

Fui colecionando pequenos elementos na tentativa de olhar com mais carinho pro meu próprio signo. O único do zodíaco simbolizado por uma mulher. Signo de elemento Terra: estabilidade, força, forma. O corpo físico, os sentidos. Não à toa, as pessoas dos signos regidos por esse elemento sabem como ninguém desfrutar dos prazeres terrenos — comida, coisas que o dinheiro pode comprar, sexo, banho de mar — e costumam mover seus corpos por esse mundo com graça particular… sendo exímios dançarinos, por exemplo. 🙂 

Uma das imagens mais bonitas e sutis que já me deram de Virgem chegou no ano passado, quando fui fazer a leitura do mapa da revolução solar com a querida Rosa (um beijo, Rosa, tú és divina e graciosa). Ela me disse que pra pensar um signo é legal olhar para os signos imediatamente anteriores a ele e traçar um caminho. “Imagine um jardim. Câncer é aquele que vai preparar a terra, cuidar dela, afofá-la, adubá-la, deixar tudo pronto para que as plantas possam germinar e crescer saudáveis. Aí vem Leão e planta flores coloridas, folhagens exuberantes, faz um jardim maravilhoso. Chega Virgem, olha aquilo e ‘putz, não tem mais nada pra mim, tudo já foi feito’. Mas aí, Virgem vai pensar em uma coisa que ninguém pensou: no perfume desse jardim. E então vai trazer ervas, outras flores, árvores frutíferas.”

Virginianos são bons ouvintes e bons conselheiros, por um motivo simples: a gente realmente se importa. A atenção é a mais rara e mais pura forma de generosidade, como escreveu Simone Weil. 

Virgos vivem o presente de forma tão intensa, e tão inteiros — como a lua alta que brilha toda em cada pocinha d’água (corruptela da imagem linda do poema de Fernando Pessoa/ Ricardo Reis), — que o esgotam, se saciam. Depois, parece que nem viveram aquilo e por isso podem às vezes parecer frios. Não são nostálgicos, olham pra frente; por outro lado, vivem buscando repetir experiências profundas. 

Jap Gambardella (Toni Servillo), em A Grande Beleza, que certeza que é virginiano, principalmente a partir do 5:07 dessa cena

Por se importarem com pessoas e coisas, e por serem atentos aos detalhes e aos processos, não gostam de desperdício. Olham para algo e enxergam o quanto de trabalho, esforço, o número de pessoas e mãos e olhares que foi necessário para algo ficar pronto, e ficam realmente incomodados quando outras pessoas não percebem isso e tratam as coisas levianamente. A sombra disso pode ser o apego, sim (alô, acumuladores). 

Representatividade importa e pra ficar em apenas dois exemplos bem conhecidos da espécie, temos o denso e maravilhoso Tolstói — que é do meu dia, 9 de Setembro (beijo pro único respondente da pesquisa aqui que usou a palavra escritor para definir o signo de Virgem ❤️). Você lê a descrição que ele faz de um parto em Anna Kariênina e entende que observar algo com total atenção e presença pode quase corresponder a experimentar no corpo e na alma esse algo. Virginianos são empáticos. 

E daí tem Beyoncée, e daí, fechamos e resolvemos de vez a autoestima, porque né, mores, se chega um E.T. hoje aqui e diz: take me to your leader, você leva ele pra quem? 

Enfim, tudo isso que escrevi até agora foi no esforço de levantar contrapontos para a (auto)crítica que, sim, às vezes pode ser terra seca, dura, pesada demais, até destrutiva. É um esforço grande, virginianos não costumam ser tão seguros de si assim. Pra ficar um pouquinho mais no meu elemento, listemos também alguns “desafios” 😉 do signo que neste caminho também fui reconhecendo cada vez mais: focar no detalhe e ter dificuldade de enxergar o todo, certa lentidão nos processos, principalmente os internos, a dificuldade, por sermos realistas, em confiar na vida e andar com fé (coisa de que pelo menos esta virginiana aqui anda precisando bastante — e isso não tem nada a ver com religião). 

De todas as características de Virgem, destaco uma que acho bem especial no exercício da relação com o outro, com o mundo, principalmente nos duros dias de hoje: a disponibilidade — pelo discernimento, paciência e vontade — para enxergar a nuance. Para detectar aquele je-ne-sais-quoi, aquele numseiquê e ficar instigado a ‘dechavá-lo’. Roland Barthes escreveu que nuance é o último estado da cor que pode ser nomeado. Um brilho espectral para além do bem e do mal, do preto no branco, da exatidão… para além do sistema. A nuance existe em oposição ao dogma, ao óbvio, ao estereótipo. A nuance nos convida a experimentar um espaço estético mais livre. Não é exatamente do que precisamos hoje? 

Pra quem percebe essa luz trêmula da nuance, tudo pode ser interessante. Assim, nós, virginianos podemos até vos parecer chatos — mas pode ter certeza de que jamais estaremos entediados, porque identificaremos em tudo alguma nuance.

Agatha Ruiz de la Prada

“A missão de Virgem é levar poesia da vida complexa pra vida prática, da teoria pra função. Do discurso pra interpretação. Do achismo para o estudo orientado.” 

— entrevistado, Virgem

E foi por essa chave que comecei a realmente enxergar Virgem sob uma luz muito mais bonita, difusa… a me enxergar mais no meu signo e até a gostar bastante de ser virginiana. E isso me inspira e fortalece na missão (autoprescrita) de tirar um pouco os pés da terra, de me deixar levar pelas águas das minhas mães Iemanjá e Oxum e buscar meu caminho ‘com confiança, embora sem qualquer segurança na existência’. Viver a vida com coragem e lucidez, com esperança, mas sem expectativas, convivendo com o motorzinho da raiva/ sangue nos olhos, mas sem ódio no coração. Tem diferença. Virginianos entenderão.

Tatiana Natsu

Tem sol e ascendente em Virgem, lua em Áries e vênus em Leão. É roteirista e mãe de dois cancerianos e de uma ariana maravilhosos.